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quinta-feira, agosto 16, 2012

médico

vestiu o paletó vermelho, casaquinho mulher de esquerda
porque sempre tinha que ser um pouco irônica
uma sorria safada pra outra
eu sou tua liberdade
eu te fodo
mato teu esquema
e és livre para ser
esquerda
louca
doce
feroz
amável
inteligente
séria
na sala o médico
oh sim exuberava
sua caridade
algo mudara na sua vida
finalmente outras pessoas
novos textos
e agora essa doida
me viu.
eu planejei essa
e era perfeita.
ele era homem.
yes..
disse a ele que não faria exames
que ele soubesse de mim palpando mesmo
vi o frio percorrer sua espinha
entendia rápido
era o ataque já
não quero fazer mamografia
amo meus peitos
aquilo achata
o homem me viu
os homens gostam
vi seus olhos procurarem meu corpo
e ele também viu
vi quando decidiu que se era era
levantou se aproximou
tira a roupa
tirei ali mesmo
ele olhou
apontou a maca
deitei.
ele lavou as mãos com cuidado
trouxe o estetoscópio
senta
e começou a me tocar
ouviu meu pulmão
meu coração
sem deixar de rodear meus seios
e olhar minha boca
de respirar no meu pescoço
deita
ele enfiou dois dedos
enquanto apertava minha barriga
examinou todos os órgãos
e curtiu
eu gemia
ele me olhava e curtia
voltou aos seios
me contorcia.
então ele voltou à pia
e marcou um ultrassom pra mim
no final da tarde.
filho da puta.
e eu fiquei.
a tarde toda na sala de espera
esperando o momento que ele ia sair
para chamar outro paciente
e me olhava
dava lhe minhas pernas
meu decote
ele sorria
franco
e a tarde passou.
era ele no ultrassom.
enquanto ele passava o rolo
sobre meus seios, minha barriga
eu comecei a falar..
que a vontade de ajudar
não justifica
solidariedade é egoísmo e inteligência
não é caridade
o que havia
era a vontade
alegria
de ganhar outro mundo
escapar da inhanha burguesa
falsas fomes virtuais insaciáveis
poder estar na terra
com as pessoas
algo aconteceu eu vi
seu olhar perdeu-se
coração comprimiu
expandiu alma
o sorriso era novo
voltou a mim
seu dedos entravam pela minha calcinha
na boca uma malícia leve
mentes vazias
a secretária despediu-se através da porta
ela entendeu
estávamos sós
menos que todos no mundo
sozinhos
ali éramos
um
instante
embora ir
fomos
perigo é isso
não saber depois
não poder não